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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Siren, o jogo que me deixou com medo do PS2

No final da era PS2 os jogos do gênero Survivor Horror começaram a passar por uma crise de identidade que perdura até hoje. As icônicas franquias Resident Evil e Silent Hill sofreram mudanças radicais de foco/gameplay tentando se adequar as tendências da geração atual, mais voltada para a ação, e poucos jogos se arriscam a fórmula tradicional de terror de sobrevivência em 3ª pessoa com puzzles dois exemplos interessantes são: Amnesia the dark descent, (que é em 1ª pessoa) e Siren: Blood Curse, exclusivo que poucos donos de Playstation 3 chegaram a conhecer. 
Sobre Amnesia eu já falei (aqui e aqui) e certamente adoraria falar de Siren BC SE tivesse um PS3 disponível. Porque eu gostaria de falar de Siren: Blood Curse? Bem, porque se trata do remake a lá Power Rangers (tem a mesma história-base e cenários, mas os protagonistas originais foram substituídos por um elenco americano) de um dos jogos mais desafiadores e  frustrantes do gênero.
Siren foi um jogo exclusivo para PS2 desenvolvido pela própria Sony do Japão em 2003 que trazia elementos dos survivor horrors da época, mais particularmente Silent Hill, porém com algumas características peculiares, sendo a principal delas a capacidade que os personagens jogáveis tinham de enxergar através dos olhos dos inimigos, chamada de Sightjack. Falando nos personagens, ao invés de dois ou três protagonistas, o jogador controlava dez indivíduos diferentes alternadamente durante as mais de trinta fases do jogo. Para completar, o enredo era sinistro e contado de forma não-linear pelo ponto de vista dos personagens sendo que cada fase se passava em uma hora específica dos três dias em que durava a história.

O jovem Kyoya Suda é o protagonista da história e o primeiro dos dez sobreviventes que o jogador conhece no jogo.

O enredo de Siren lembrava bastante Silent Hill, se passado no remoto vilarejo montanhoso de Hanuda no Japão, um lugar isolado e pacato que abrigava secretamente uma seita maligna (notou a semelhança?). O jogo começa a partir do momento em que um ritual realizado por esse culto causa um terremoto que isola o vilarejo em uma espécie de dimensão perdida no espaço-tempo rodeada por um enorme rio de aguas vermelhas que transformou a maioria dos habitantes em criaturas imortais chamadas Shibitos. 
O jogador controla dez sobreviventes, entre eles adolescentes, um padre, um eremita, um professor de história, uma repórter, um médico e até uma criança, sendo maior parte visitantes azarados da cidade que não foram transformados e lutam para entender o que está acontecendo e salvar suas vidas.
O game incentiva que o jogador evite confrontar os shibitos. Entenda por "incentivo" o detalhe de que a maioria dos personagens não tem arma alguma, ou quando se tem uma arma a munição é escassa, além de como citei acima os shibitos serem imortais. O máximo que se pode fazer é derruba-los por alguns minutos, logo a principal defesa dos personagens é utilizar estrategicamente o poder de sightjack, procurando entender a movimentação de cada inimigo no cenário e tentando passar despercebido por eles. 

Usando o sightjack, a visão fica vermelha e pode-se enxergar através dos olhos dos inimigos. Na maior parte do jogo utilizar bem esse recurso é sua única arma...

O Sightck funciona como uma espécie de receptor de TV: com movimentos no analógico, o jogador vai "mudando os canais" podendo sintonizar a visão de cada shibito presente no cenário e evitar o contato visual. O problema é que a jogabilidade não ajuda. A câmera as vezes se movimenta de maneira independente e os personagens são extremamente "duros" para se controlar. Acha o estilo "tanque" dos RE's clássicos travado? Aqui e pior. Assim, se for visto por um shibito e estiver despreparado é morte certa.
Além da jogabilidade o jogo tem outro problema grava ao menos aqui no ocidente: a dificuldade absurda. Em cada nível é lhe dado um objetivo mas o game não dá nenhuma dica de como alcança-lo. O tradicional Mapa está presente mas ao contrário de RE e Silent Hill ele não exibe a posição atual do personagem, apenas o ponto inicial, tornando extremamente difícil a navegação, já que você precisa se orientar por locais descritos no mapa para calcular aonde você está no momento. Bem realista, mas nada prático.

Exemplo de mapa de Forbidden Siren, melhorado e mais parecido com os de Resident Evil. O local em amarelo é onde seu personagem está no momento. QUAQUER parte do lugar em amarelo. Seria de grande ajuda se fosse assim na versão original

Outra causa de frustração constante é o fato de que só é permitido salvar ao se completar a fase. Algumas até possuem checkpoints, mas eles são apenas temporários e se tiver pego algum file secreto (existem dezenas, alguns obrigatórios para desbloquear certas missões) e morrer, ele desaparece quando voltar ao checkpoint. 

Como se não bastasse ter de advinhar como cumprir os objetivos das fases, o jogo ainda exige bastante atenção nos cenários para encontrar files secretos

Meio difícil né? Mas espere, ainda não acabou: o enredo é contado em seções curtas e não lineares, logo, você mais avançar e retroceder no tempo por diversas vezes sem compreender o que está acontecendo com os personagens e como se não bastasse, a maioria das fases tem um objetivo secundário que só é liberado após conclui-la pela primeira vez, dai ele te obriga a voltar depois para essa mesma fase, sofrendo todas as dificuldades citadas anteriormente e te dando um objetivo a mais que a tornará ainda mais complicada.Se não completar os dois objetivos a próxima fase não será liberada. 

Dramas familiares do tipo: "minha irmã virou um monstro imortal que quer me matar" são comuns em Siren.

Algumas fases só tem o objetivo secundário desbloqueado se você fizer uma ação específica com algum personagem. Por exemplo: em uma fase você passa por um portão com cadeado. Se não quebrar esse cadeado outro personagem que virá depois por esse caminho não poderá passar. Detalhe: o jogo não te avisa de nada disso! Segue-se então uma sucessão interminável de tentativa e erro em busca desses detalhes e de formas de completar (muitas vezes entender) os vagos objetivos secundários do game.Os japonesas adoram esse tipo de coisa, mas pra mim minou completamente o potencial incrível que o enredo tinha.
Os controles seguem um padrão de mapeamento diferente do padrão Resident Evil/Silent Hill, colocando o botão triângulo com a função de executar ações e investigar itens ao invés do tradicional X. Parece bobagem, mas até se acostumar já terá perdido iténs importantes nos cenários. O sightjack permite mapear os botões do dualshock deixando cada um dos quatro botões designados para um shibito diferente. Facilita bastante, mas as vezes do nada a sincronia se perde e você tem que sintonizar todas as "visões" do cenários novamente.
Não posso negar que é muito satisfatório quando se descobre o caminho da fase ou como resolver algum desses puzzles, mas maior ainda é a frustração quando você morre implacavelmente nas mãos de um shibito que apareceu do nada no final da fase e tem de repetir tudo do zero.

Um shibito fazendo biquinho pra foto do Facebook. Uma graça não?

Pois bem, pra resumir a história eu tinha muita vontade de jogar esse game desde quando vi os primeiros previews em revistas. Consegui uma cópia original no final do ano passado com muita alegria e...até hoje não cheguei nem na metade do jogo! Não sei explicar direito, mas o poder de frustração desse jogo [é tão imenso que acabou me causando aversão e medo de coloca-lo no console pra jogar. Só de pensar em quantas horas vou levar pra advinhar como os desenvolvedores queriam que eu passasse da fase, pra depois levar mais algumas horas tentando passar de fato, começo a ter arrepios.Definitivamente não é um jogo pra todos.

Esse é o tipo de situação em que fechar os olhos não resolve nada. Pernas pra que te tenho garota!

Não é a toa que a série vendeu pouquíssimo no ocidente e até hoje é pouco conhecida, o que prejudicou bastante Blood Curse, que apesar de ainda difícil, é um pouco menos perverso com o jogador e realmente é um bom game do gênero nessa geração. Um reflexo do baixo potencial comercial foi o fato do jogo só ter sido lançado em disco no Japão e Europa. As versões americana e europeia só foram disponibilizadas em episódios baixáveis na PSN. Uma pena.
Ainda no PS2 existe uma versão melhorada lançada na europa denominada Forbiden Siren. Essa versão possui gráficos e jogabilidade bem melhores, mas ainda é bem difícil. Houve também o Forbiden Siren 2, lançado apenas no Japão e Europa em 2006. Apesar de notas melhores nos review especializados que seus antecessores o jogo vendeu pouquíssimo também, mas é talvez os preferidos dos fãs. A franquia originou um filme de terror, Forbidden Siren, lançado apenas no Japão em 2006

Trailer de Siren:

Trailer de Siren Blood Curse:

Bem, eu vou tentando tomar coragem para encarar o jogo. Atualmente estou numa fase com uma personagem desarmada presa em uma mina lotada de shibitos, cujo objetivo dado pelo jogo é "Encontre o shibito que procura a chave"...tá dificil assim, mas algum dia eu consigo. Só não sei quando.
Pra encerrar esse post enorme, Siren é uma série de terror interessante, com enredo digno dos melhores filmes B japoneses, do tipo em que e não há esperança e todo mundo morre no final mas a dificuldade harcore baseada em tentativa e erro torna-o recomendável apenas para fãs do gênero que curtem um alto desafio. Se for seu caso, pode crer que será recompensado com uma história tão bacana quanto as de Silent Hill nos bons tempos.

Prós: Clima tenso e opressor; 10 personagens jogáveis; desafio extremamente alto misturando adventure e stealth, sistema de sightjack bem inovador, enredo digno de um filme de terror japonês.

Contras: Gráficos simples, jogabilidade com movimentação lenta e travada, desafio baseado em tentativa e erro, sistema de checkpoints deficiente (a maioria das fases não tem) que pode frustrar bastante, objetivos vagos.

Nota (de 0 a 5): 

5 comentários:

  1. Na verdade o JC se enganou numa coisa neste post. Na Europa saiu a versão retail do Siren Blood Curse. Aliás eu sei isso , porque comprei o jogo. Embora não tenha jogado o original posso dizer que o Blood Curse é bastante divertido , e até nem achei MUITO frustante.

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  2. Ae Sharp. Valeu pela ressalva. Realmente eu Não sabia que BC tinha sido lançado em disco também na Europa. Vou corrigir o post. Aparentemente a série é bem mais aceita por ai que na américa, já que Forbbiden Siren, a versão melhorada do original de PS2 tbm só foi lançada na Europa.

    Ele como todo remake bem feito é infinitamente mais agradável (se é que posso utilizar essa palavra em um jogo de horror desse nivel) de jogar que o original, isso eu te garanto.^^

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  3. Respostas
    1. Só as GACTAS endemoniadas com rostos derretentes.

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  4. Ótimo post e sem spoilers! Estou jogando este game e encontrei essa análise

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